quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Análise literária - A mão esquerda da escuridão de Ursula K. Le Guin

Feliz 2019 a todos!

E para começar o ano com o pé direito vamos falar da mão esquerda... da escuridão, uma ficção científica clássica escrita por Ursula K. Le Guin.

Vambora?

Assista também ao vídeo: 

DADOS TÉCNICOS: 2014 (1969), 296 páginas, Ed. Aleph, Ursula K. Le Guin


CAPA:

Capas vistosas não são o forte da ficção científica. Nesta edição de 2014, a preocupação da editora ficou mais em mostrar o nome da autora e o título do livro, já que é uma obra já razoavelmente conhecida.

Mas a capa original também deixa bastante a desejar, mostrando apenas uma figura de dois homens sobre um fundo abstrato.

Nota 3,0











SINOPSEGenly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta Inverno, como é conhecido por aqueles que já vivenciaram seu clima gelado, o experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase medieval, estranhamente bela e mortalmente intrigante. Nessa sociedade complexa, homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. Os indivíduos não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados a respeito dos significados de feminino e masculino, ele corre o risco de destruir tanto sua missão quanto a si mesmo.

A sinopse dessa edição (não sei se a original era assim) apela para o assunto da identidade de gênero que é sim trabalhada no livro, mas não no grau que se tenta passar aqui. A sinopse, inclusive, passa informações falsas sobre a história, mas não vou discuti-la para não entrar no spoiler...

Nota 2,0

PÚBLICO-ALVO: A mão esquerda da escuridão é claramente uma obra de ficção científica e, apesar de não ser do tipo hard, ela não é indicada para quem não é fã do gênero.
Pelas resenhas que li sobre a obra no skoob fica bem claro que muita gente chega a esse livro acreditando que ele é uma coisa e se decepciona ao descobrir que é outra.
A autora fez a parte dela, mas o marketing feito por quem comercializa o livro leva a culpa.

Nota 4,0

TRAMA/ENREDO: A mão esquerda da escuridão é um livro onde um planeta inteiro precisa ser apresentado e descrito, bem como seus habitantes com suas características e costumes próprios.
Isso custa muitas das 296 páginas do livro e sobra pouco espaço para uma trama mais envolvente.

O enredo gira mesmo em tordo da missão de Genly Ai em convencer os líderes do planeta Gethen a entrarem para a organização chamada Ekumen.

Boa parte da trama ainda é consumida em uma aventura vivida pelo personagem e seu contato Estraven por uma área inóspita.

O resultado é um livro difícil de virar as páginas e que muitos irão rotula de "chato".

Nota 3,0 

NARRAÇÃO: Narrado em primeira pessoa alterando-se entre Genly Ai e Estraven, a obra conta com alguns capítulos entre aqueles que formam a trama principal. Nesses capítulos mais curtos há alguns contos que ajudam o leitor a entender como o planeta funciona.

A alternância é essencial para que o leitor entenda os diferentes pontos de vida de um nativo de Gethen e de um terráqueo.

Os contos também ajudam a quebrar um pouco a narrativa e tornam o livro menos tedioso.

Nota 4,0

VEROSSIMILHANÇA: A criação de mundos apresentada em a mão esquerda da escuridão é de uma qualidade assustadora.
A autora criou um planeta inteiro com clima próprio, vocabulário, costumes, religiões e ainda fez tudo isso colocando uma raça de pessoas assexuadas que se tornam homens ou mulheres apenas quando entram num estado sexualmente ativo.

Em nenhum momento notei algo mal explicado, tendo a autora o cuidado de nomear cada dia do mês, um trabalho realmente brilhante.

Nota 5,0

PERSONAGENS: A mão esquerda da escuridão não é um livro sobre proezas de A ou B, nem dos sofrimentos e mazelas de alguém. É um livro sobre uma sociedade e os indivíduos dessa sociedade se comportam razoavelmente da forma como é esperado.

Por isso não espere por personagens de tirar o fôlego e arrebatar paixões, embora todos estejam muito bem caracterizados e descritos.

Nota 4,0

LINGUAGEM: A linguagem desta obra é desafiadora para o leitor por dois motivos. O primeiro é a época em que foi feita. 1969 não parece tanto tempo assim, mas o livro não é fluído de se ler, principalmente devido à quantidade de termos relativos ao planeta Gethen.


Claro que esses termos estão lá para ambientar a história e tudo é muito competente, mas você precisa estar em um bom dia para virar as páginas 

Nota 4,0

DIÁLOGOS: Os diálogos são a parte em que a leitora colocou a maioria das questões filosóficas que estão no livro. Ficção científica precisa deixar algo no leitor para reflexão e a mão esquerda da escuridão faz isso muito bem.

Os diálogos são inteligentes e naturais, a melhor parte do livro.

Nota 5,0

FINAL: Muitas vezes na ficção científica o que vale é a jornada, por isso não espere por um final repleto de reviravoltas. Nem mesmo espere por um clímax.
A mão esquerda da escuridão tem um final que faz sentido, não sendo nem feliz nem triste, já que isso pouco importa para o estilo. Está perfeitamente de acordo com a proposta.

Nota 4,0

CONCLUSÃO: A mão esquerda da escuridão é um livro que cumpre o que a autora prometeu, mas que não cumpre aquilo que os marqueteiros querem prometer. O livro não discute profundamente as diferenças de gênero como muitas vezes é sugerido, apenas joga para ao alto algumas ideias para discussão.

Isso pode deixar muitos leitores um pouco decepcionados, mas precisamos lembrar que o livro foi escrito no final da década de 60 e não tinha como avançar tanto assim nesses temas. Tanto que ao criar seres sem sexo, a autora acabou os descrevendo mais como homens, exaltando por vezes as características masculinas como qualidades e diminuindo as femininas para defeitos. 
Assim sendo, mesmo tentando ser revolucionário na questão do gênero, o livro acaba sendo uma pitadinha machista em alguns pedaços, claro que fruto de um hábito enraizado na sociedade da época e que ainda vemos acontecer 50 anos mais tarde.

Um livro para fãs do gênero apenas.

A nota final foi 3,8; bastante condizente com a média das avaliações encontradas.

E você já eu essa obra? Qual a sua opinião à respeito dela? e desta avaliação?

Converse com a gente através dos comentários.

Abraços literários

Dan Folter!

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