Olá meus caros, como estão vocês?
A resenha de hoje é de um clássico moderno. Terra Sonâmbula do autor moçambicano Mia Couto
Capa:
Leia se você gosta de desafios, quer aprender mais sobre o português ou admira prosa poética.
Não leia se você é imaturo demais para algo dessa magnitude. Compre e leia daqui 10 anos.
Livro que já teve algumas capas e já passou por várias editoras, aqui em versão minimalista para não dizer sem graça. Mas é até bom já que o bom dessa obra é o texto...
SINOPSE: No Moçambique pós-independência, mergulhado na devastadora guerra civil que se estendeu por dez anos, o velho Tuahir e o menino Muidinga empreendem uma viagem recheada de fantasias míticas. Terra Sonâmbula — considerado pelo júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX — é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Mia Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula, que nos ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é um elemento indispensável para se continuar vivendo.
DADOS TÉCNICOS: 2015 (1992), 200 páginas, Companhia de bolso, Mia Couto
RESENHA: Terra sonâmbula é um daqueles livros que precisou trilhar um duro caminho até o reconhecimento. Escrito em língua portuguesa e por um africano, o tomo não teve vida fácil e, só recentemente, foi levado ao cânone e reconhecido como uma grande obra. Hoje, clássico moderno, o livro tem sido motivo de estudos em universidades e vos direi porque só tenho a concordar com a escolha.
PROSA POÉTICA: O livro virou motivo de estudos, em primeiro lugar, por sua linguagem. Mia Couto escreve em prosa, alterna entre a primeira e a terceira pessoa, mas o faz de uma forma especial. As descrições, diálogos, tudo é feito de forma a se privilegiar a língua. Mia Couto brinca com as palavras, se repete de propósito, rima e até faz o uso de neologismo para contar a sua história.
A presença de termos africanos, apesar da dificuldade óbvia, nos colocam mais próximos à realidade que pretende mostrar e, se é um pouco difícil de lidar com o texto, dado a complexidade, vale a pena.
Mesmo não tendo o hábito de colocar trechos da obra, desta ver o farei para que o leitor possa me compreender melhor:
" - Não gosto de pretos, Kindzu.
- Como? Então gosta de quem? Dos brancos?
- Também não.
- Já sei: gosta de indianos, gosta da sua raça.
- Não. Eu gosto de homens que não tem raça. É por isso que eu gosto de si, Kindzu"
HISTÓRIA: A narrativa é dividida entre dois núcleos. Temos um velho de nome Tuahir e um garotinho de nome Muidinga que viajam fugidos da guerra civil que assola o país. Eles acabam por se abrigar num ônibus (machimbombo) e encontram uma série de cadernos pertencentes a alguém chamado Kindzu.
O menino então lê esses diários e conhecemos então como era a vida desse homem, sua família, seus amores e seus problemas. Quando estamos com o velho e o menino, o livro vai para a terceira pessoa e depois fica em primeira ao acompanharmos os relatos de Kindzu.
" - Tio, eu me sinto tão pequeno...
- É que você está só. Foi o que fez essa guerra: agora todos estamos sozinhos, mortos e vivos. Agora já não há país."
CONTEXTO HISTÓRICO: O livro mostra a situação do país logo após a independência de Portugal. Poderíamos imaginar um período de recuperação, mas Moçambique enfrentou uma terrível guerra civil que só trouxe mais morte, fome e destruição. Apesar do tema pesado, o autor consegue transmitir ao leitor toda essa desgraça de uma forma anestesiada, algo que justifica o título da obra: Terra sonâmbula. O país e o povo vivem em torpor, um torpor causado pela fome, pela falta de esperança, pela proximidade com a morte.
REALISMO MÁGICO: Não se pode chamar esta obra de fantasia, já que é claramente calçada na realidade, porém a trama é cheia de acontecimentos fantasiosos, que mais parecem lendas ou crendice, muito retirado do próprio folclore daquele país. O nome para isso é realismo mágico, termo comumente associado ao clássico 100 anos de solidão.
O leitor fica sem saber o que, na perspectiva dos personagens, realmente aconteceu, é exagerado ou pura fantasia, mas não importa, o que importa é que resulta numa história bastante prazerosa para o leitor.
" - Por que estás tão reduzido, filho?
- É que trago um desgosto de mulher.
- Isso não tem remédio, filho. Eu sei muito bem. Porque eu vivi num tempo em que o amor era uma coisa perigosa. Tu vives num tempo em que o amor é uma coisa estúpida"
CONCLUSÃO: Terra sonâmbula é uma obra que tem um belo texto, muito bem trabalhado para estudantes de literatura e letras. É uma história de forte cunho social que nos mostra os horrores de uma guerra. É, acima de tudo, uma história sobre pessoas, sobre sentimentos e termina de forma surpreendente e espetacular.
Dei nota 4,5 no Skoob. Quase perfeito.
Leia se você gosta de desafios, quer aprender mais sobre o português ou admira prosa poética.
Não leia se você é imaturo demais para algo dessa magnitude. Compre e leia daqui 10 anos.
E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?
E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
Então deixe o seu comentário.
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Abraços
Dan Folter!
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