quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Resenha - Pepita de Mar' Junior

Olá pessoal que acompanha o blog, tudo bem por aí?

Agosto tem sido um mês de bastante postagens, pois consegui finalizar várias leituras e, por isso, tem mais uma resenha para vocês, e de um livro brasileiro.
Pepita, Passei a minha infância e adolescência sendo perseguida, sofrendo bullying de Mar' Junior

 
Capa:


Capa que passa bem a mensagem do bullying, além de mostrar a cor favorita da protagonista, o pink.

SINOPSEA história de PEPITA acontece no último dia de aula do ensino médio, no dia de sua formatura. Ela, deitada num sofá na biblioteca, onde sempre gostou de estar, relembra o seu passado, como chegou naquela escola aos 2, 3 anos de idade e que foi perseguida esses anos todos, sofrendo bullying. PEPITA nasceu num lar tão rico, que as suas próximas dez gerações não precisarão trabalhar. Menina bonita, magra, com dentes perfeitos, inteligente - lê muito -, desportista - ganhou tudo pela escola -, participativa nas atividades diárias normalmente, como Grêmio estudantil e aluna de notas excelentes. PEPITA tinha tudo para não sofrer bullying, mas o inverso aconteceu e ela não sabe até hoje porque Canina e sua turma a tratam tão mal e aprontaram com ela nesses últimos 15 anos, que ela espera nunca mais revê-las. PEPITA teve algumas perdas importantes na sua vida neste período, mas também teve encontros extraordinários. Sua relação com seus pais é a melhor, dentro do planejado com eles, só se comunicando por intermédio de bilhetes que são colocados num quadro no segundo andar da sua casa, onde ficam os quartos. PEPITA mostra que não precisa ser negro, pobre ou favelado para ser mau-caráter, basta ter uma família desestruturada para que isso venha à tona.

DADOS TÉCNICOS: 2017, 256 páginas, Amazon, Mar' Junior

RESENHA:  O livro sobre o qual falaremos hoje é sobre um problema bastante antigo, mas que só começou a receber atenção adequada nos últimos anos, que é o bullying.

Mas antes eu gostaria de citar a sinopse do livro. Ela é enorme, o  nome da protagonista está escrito várias vezes em letras maiúsculas, mas o que me chamou mais atenção foi esse pedaço:

 "PEPITA mostra que não precisa ser negro, pobre ou favelado para ser mau-caráter"

Confesso não ter entendido a intenção do autor. Ele acha que todo mundo acha isso?

IMPROVÁVEL: Essa foi a minha primeira reação ao ler os primeiros capítulos desse livro. Pepita é rica, bonita, inteligente, esportista e tem mais uma série de qualidades que dificilmente a colocariam como alguém vítima de bullying.  A única justificativa para as outras meninas a escolherem seria a inveja, embora isso não fique claro na trama. Se voltarmos à sinopse, o próprio autor alega todas essas qualidades, mas diz que simplesmente aconteceu, por isso a minha reação de estranhamento.

AZAR: A narrativa de 80% das mais de 200 páginas do livro mostra Pepita, já que o livro é escrito em primeira pessoa, mostrando todos os planos infalíveis orquestrador por Canina e sua turma contra ela.

Não consegui deixar de ver Canina como Cebolinha fazendo "planos infalíveis" para roubar o coelhinho da Mônica...

O que chama a atenção aqui é o azar de Pepita, já que ninguém nunca percebe que ela é inocente e a situação se repete durante todo o ensino fundamental e todo o ensino médio.
É realmente incrível a incompetência de todos os profissionais desse colégio (um dos melhores da cidade) em identificar um simples (e óbvio) caso de bullying.
Pepita sofre todo o tipo de humilhação, inclusive a violência física e as únicas pessoas capazes de perceberem a verdade são as duas faxineiras da escola.

PAIS OMISSOS? Outro fato que chama bastante a atenção no livro é a forma de comunicação entre Pepita e os seus pais. Aparentemente ausentes em virtude dos trabalhos, se comunicam com a filha através de um quadro de recados. Pepita deixa bilhetes e pega a resposta depois.
Isso explicaria porque os pais não percebem o sofrimento da filha, já que provém a menina com todos os confortos financeiros, mas não ligam muito para a parte afetiva.
No decorrer do livro, essa situação parece mudar um pouco em virtude de alguns acontecimentos.
 
TRAGÉDIAS: A vida de Pepita é como a do personagem Joseph Climber do grupo de comédia Melhores do Mundo. Já está bastante ruim, mas piora.
Não bastasse todos os episódios de bullying, o destino também não é camarada com a personagem e me peguei pensando como que ela não tomou uma atitude mais drástica contra quem a feria ou contra si, algo normal entre adolescentes.

CONFORMISTA ?: Se você estuda num colégio que só te traz problemas, o que você faz? Tenta sair, se revolta, faz greve de fome, mas em nenhum momento Pepita reage ao que acontece com ela. Em todo o livro ela toma apenas uma ação contra aqueles que a atacam, mas não estou defendendo que fosse violenta, mas sim que falasse com os pais e mudasse de escola.
Por que alguém, em sã consciência, aguentaria tantos anos de tortura, calada?

FALTOU EMPATIA: A tarefa de ir à escola sabendo que não se tem amigos é complicada, mas é bem mais fácil sofrer numa mansão, com motorista particular e o tão repetido "Iphone 6 rosa" da personagem. Em alguns momentos as reclamações dela se tornam um pouco vazias, afinal é rica, linda, inteligente, etc, etc etc... 
Por esses motivos, mesmo conhecendo bem o que é o bullying, já que passei por isso na infância, não consegui comprar a personagem e nem torcer por ela.

Cheguei até a pensar que era tudo imaginação da garota e que ela descobriria isso durante o livro, mas essa reviravolta não veio.

IDEOLOGIA RELIGIOSA: Pepita tem dois objetivos bem claros como obra:
1 - Alertar contras os malefícios do bullying;
2 - Pregar ideologia religiosa.

Sobre o número 1, já falamos bastante, mas sobre o número 2, talvez explique um pouco o comportamento omisso da personagem.
Apaixonada por uma única canção gospel que utiliza como escape para os momentos difíceis, a personagem "oferece a outra face" o tempo todo.

Me parece que o autor tentou justificar a omissão da personagem como bondade, adquirida, é claro, graças à inclinação religiosa que possui.
Em várias partes é frisado que Pepita tem "qualidades" como não beber, fumar ou fazer questão de se manter virgem enquanto as vilãs do livro fazem o contrário.

Explica, mas não justifica.
 
CONCLUSÃO: Pepita é uma história bastante bem intencionada, que busca alertar pais, professores e jovens sobre o problema do bullying, mas faz isso com uma personagem que não convence.
As situações propostas são muito improváveis, assim como a omissão generalizada.
Faltaram tons de cinza. Os personagens são estereotipados demais. 

Pepita foi publicada de forma independente e está muito bem escrita, diagramada e revisada. Coisa rara hoje em dia no mercado nacional independente.
Leva nota 3 no Skoob, bom, mas não conseguiu me conquistar.

E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?

E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
Então deixe o seu comentário.

Abraços

Dan Folter

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Resenha - Um artista da fome / A metamorfose de Franz Kafka

Salve meu povo, como estão vocês?

Hoje é dia de resenha, mas vai ser uma resenha mais curta porque o livro é fininho. Vambora?
 
Capa:


Capa da versão de bolso bem antiga que tenho em casa. Simples como deve ser.

SINOPSEQuatro contos e uma novela escritos entre 1922 e 1924 - os dois últimos anos de vida do ficcionista checo Franz Kafka. Personagens solitários, oprimidos e sem esperança voltam a freqüentar as narrativas, numa espécie de resumo, ou testamento, da obra kafkiana.

DADOS TÉCNICOS: 1996 (1915), 111 páginas, Ediouro, Franz Kafka

RESENHA:  O livro sobre o qual falaremos hoje é bem curtinho, apenas 111 páginas, mas ele contém um dos textos mais conhecidos de todos os tempos. O famoso "A metamorfose" e ainda conta com outro conto mais curto chamado "Um artista da fome"
Como a sinopse deixa a desejar, farei um breve resumo:
Um "Um artista da fome" vemos como era a vida dos profissionais que eram pagos para passar fome e serem exibidos de forma itinerante pela Europa, isso em tempos onde não havia televisão ou cinema e as pessoas tinham poucas opções para se divertirem,
Já em "A metamorfose" acompanhamos Gregório, um trabalhador simplório que acorda num belo dia transformado em uma barata e como sua família irá lidar com a situação.

CLÁSSICO: Essa foi a minha primeira experiência com a escrita do autor e foi como eu esperava. Uma escrita rica, cheia de detalhes, bom como era comum em sua época. Em nenhum momento a leitura foi chata ou arrastada, nem precisei de um dicionário para entender. É um texto que, apesar de não ser fácil, pode ser lido sem grandes problemas.

UM ARTISTA DA FOME: A narrativa deste conto é simples e nos mostra os detalhes técnicos do homem que faz sua vida passando fome. A profissão, inicialmente motivo de orgulho e de sustento, mostra-se desatualizada quando as pessoas começam a preferir o cirso e, mesmo o personagem se juntando a uma trupe, é relegado ao esquecimento.
Várias metáforas podem ser vistas aqui, mas acredito que a principal é do status passageiro. Muitas vezes nos achamos estáveis, invencíveis ou imortais em certa parte ou evento de nossas vidas, mas o autor nos convida a pensar no quanto essas situações são transitórias e como tudo pode mudar de uma hora para a outra.

A METAMORFOSE: O texto que trouxe a fama a Kafka é realmente digno de todos os elogios. Escrito durante o pré-modernismo, época onde o simbolismo era forte, o livro nos traz uma leitura agoniante.
Temos um homem (que não é mais homem) preso à sua cama, sem conseguir se levantar em virtude da transformação, embora o que mais o preocupe seja o fato de estar atrasado para o serviço.

Toda a dificuldade de movimentos como a adaptação ao novo corpo e a descrição das partes de inseto são de causar no leitor uma agonia. Poucas vezes me empatizei tanto com um personagem. Mesmo numa situação complicadíssima, ele continua a se preocupar com o bem estar da família, com a imagem no trabalho, a última coisa que esperaríamos de alguém com esse tipo de problema.
 
A METÁFORA: A metamorfose pode parecer um livro de terror ou de ficção científica, mas está muito longe disso. A transformação do personagem pode ser encarada como uma doença, já que exige cuidados. Gregório não mais pode trabalhar e não provém mais para a família como antigamente.
Por causa disso todos na casa passam a precisar rever suas rotinas, arranjar novos empregos e até alugam quartos para conseguir renda.
Isso pode ser notado na forma como ele é tratado pela família. A repulsa inicial se torna piedade, mas com o tempo, fica claro que, agora que não é mais útil financeiramente, e ainda impede a família de se mudar devido à sua condição, Gregório é apenas um estorvo.

A situação dele nos faz pensar em famílias que tem pessoas idosas, com necessidades especiais ou algum tipo de invalidez. O tratamento que essas pessoas recebem não diferem muito ao dado ao personagem. É uma metáfora realmente brilhante e que justifica com louvor toda a fama que a obra tem.
 
CONCLUSÃO: Apesar de não ter apreciado tanto o primeiro conto, que tem qualidade, mas não marca muito, o segundo é tudo aquilo que alçou o autor a fama e merece tudo o que é falado sobre ele ainda hoje.
Como a obra é centenária, os direitos autorais já são de domínio público então o texto pode ser encontrado com facilidade na internet.
Leitura obrigatória pelo menos uma vez na vida

E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?

E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
Então deixe o seu comentário.

Abraços
Dan Folter!

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Resenha - Árion, o reflexo de um outro mundo de Pablo Madeira

Salve meu povo, como estão vocês?

Hoje é dia de resenhar livro nacional. E o escolhido foi Árion, o reflexo de um outro mundo de Pablo Madeira
 
Capa:


Outra vez a Xeque-Matte mandou muito bem em uma capa. Além de muito bonita, tem tudo a ver com a história!

SINOPSEDurante uma invasão noturna em uma velha casa, que muitos julgavam assombrada, Laura acaba descobrindo que um antigo espelho é na verdade um portal para um mundo mágico, chamado Árion. Por acidente, a jovem acaba sendo levada para este mundo na companhia do seu melhor amigo e do ex-namorado.
Porém, os problemas estavam apenas começando, pois Árion está em guerra e a chegada dos jovens é a prova de que uma antiga profecia se tornará realidade, ou seja, a existência de outros mundos, despertando com isso o desejo das forças das trevas de dominarem a Terra a qualquer custo. Agora, a jovem e os amigos precisam descobrir uma forma de voltar para casa antes que seja tarde.
Uma história fantástica, recheada de descobertas e emoções aguarda o leitor.

DADOS TÉCNICOS: 2017 , 225 páginas, Ed. Xeque-Matte, Pablo Madeira

RESENHA: Em Árion, o reflexo de um outro mundo somos apresentados a uma obra de fantasia onde três jovens irão atravessar um espelho que encontram numa suposta casa mal assombrada e então adentrarem um novo mundo onde criaturas como Elfos, fadas, duendes e sereias são reais.
Mais do que isso eles descobrirão que existe uma antiga profecia e que são os escolhidos para livrar aquele mundo de uma guerra iminente.
Essa sinopse pode nos fazer lembrar de outras obras com jornadas do herói em outros mundos como as crônicas de Nárnia, por exemplo, mas ao meu ver as semelhanças terminam por aí. Árion segue um caminho próprio.

BEM AMARRADO: Obras de fantasia onde mundos fantásticos são mostrados sempre correm o risco de apresentarem problemas de coerência, mas o mundo de Árion é bem justificado e a forma de comunicação entre o nosso mundo e o deles é bem concisa.
A trama é simples: Os escolhidos se unirão com criaturas "do bem" e precisarão cumprir uma série de desafios até enfrentarem Befana, a feiticeira que ameaça o mundo de Árion

PERSONAGENS: A narrativa é dividida entre três personagens principais:
Laura é uma menina de 17 anos apaixonada por magia e pelo sobrenatural, o que a leva a querer explorar o suporto casarão mal assombrado. Ela é o principal fio condutor da trama.

Igor é o melhor amigo de Laura. Um rapaz medroso, mas que se deixa levar, bastante doce e compreensivo.

Felipe é o ex namorado de Laura e é inicialmente apresentado como uma pessoa egocêntrica.

Como exige a jornada do herói, esses personagens evoluem bastante na trama e recebem a ajuda de um grupo de elfos onde Truyan é aquele do qual saberemos mais durante essa primeira parte.
Os coadjuvantes também são apresentados de forma correta e são bem descritos, pois, mesmo com uma quantidade numerosa deles, não ficamos perdidos na trama.

ADRENALINA: O livro não tira o pé do acelerados em nenhum momento. É ação contínua com pequenos espaços para ambientação ou desenvolvimento de personagens, bastante adequado para a proposta. Ótimo livro para se ler a noite, já que não dá sono de jeito nenhum.

UMA PITADA LGBT+: Já era esperado que o autor reservasse um espaço para pelo menos um relacionamento LGBT+ na trama. Apenas não me agradou muito a forma como foi feita. Eu imaginava que isso seria apresentado de uma forma natural, mas quando o próprio personagem se acha inadequado pelo que sente, não me pareceu a melhor forma de abordar o tema.
Ao meu ver poderia ter sido colocado como qualquer outro romance e, se houvesse preconceito, que viesse de fora.

REVISÃO: A grande inimiga da literatura nacional ataca novamente. Árion precisava de uma revisão e de um copidesque mais cuidadosos. Encontrei erros de concordância em quantidade bem acima do desejado, problemas com plurais e colocação de vírgulas que acabam por tirar um pouco o prazer da leitura.
Algumas sentenças precisam ser lidas mais de uma vez para que se compreenda o que o autor quis dizer. Não é um livro mau escrito, longe disso, mas esses errinhos, uma constante na literatura brasileira, irritam um pouco.
 
CONCLUSÃO: Árion, o reflexo de um novo mundo é um livro típico de fantasia com todos os elementos que o leitor do gênero espera. Vai agradar em cheio ao público juvenil e jovem adulto. É uma leitura cheia de ação e a história é muito coesa e bem amarrada. O senão fica para a revisão.
Leva 3,5 estrelas no Skoob, um pouco acima da média.

Leia se você gosta de fantasia, monstros e aventura.

Não leia se você espera por algo profundo e filosófico, a proposta aqui é ação e fantasia.

E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?

E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
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Abraços
Dan Folter!

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Youtube - Deuses Americanos de Neil Gaiman - S01E09

Olá meus amigos

É com muito prazer que chegamos a mais um vídeo no canal desinformadoss



Venham saber tudo sobre Deuses Americanos de Neil Gaiman









Não se esqueçam de se inscrever, curtir e compartilhar.



Abraços



Dan Folter

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Resenha - Terra Sonâmbula de Mia Couto

Olá meus caros, como estão vocês?

A resenha de hoje é de um clássico moderno. Terra Sonâmbula do autor moçambicano Mia Couto
 
Capa:


Livro que já teve algumas capas e já passou por várias editoras, aqui em versão minimalista para não dizer sem graça. Mas é até bom já que o bom dessa obra é o texto...

SINOPSENo Moçambique pós-independência, mergulhado na devastadora guerra civil que se estendeu por dez anos, o velho Tuahir e o menino Muidinga empreendem uma viagem recheada de fantasias míticas. Terra Sonâmbula — considerado pelo júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX — é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Mia Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula, que nos ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é um elemento indispensável para se continuar vivendo. 

DADOS TÉCNICOS: 2015 (1992), 200 páginas, Companhia de bolso, Mia Couto

RESENHA: Terra sonâmbula é um daqueles livros que precisou trilhar um duro caminho até o reconhecimento. Escrito em língua portuguesa e por um africano, o tomo não teve vida fácil e, só recentemente, foi levado ao cânone e reconhecido como uma grande obra. Hoje, clássico moderno, o livro tem sido motivo de estudos em universidades e vos direi porque só tenho a concordar com a escolha.

PROSA POÉTICA: O livro virou motivo de estudos, em primeiro lugar, por sua linguagem. Mia Couto escreve em prosa, alterna entre a primeira e a terceira pessoa, mas o faz de uma forma especial. As descrições, diálogos, tudo é feito de forma a se privilegiar a língua. Mia Couto brinca com as palavras, se repete de propósito, rima e até faz o uso de neologismo para contar a sua história.
A presença de termos africanos, apesar da dificuldade óbvia, nos colocam mais próximos à realidade que pretende mostrar e, se é um pouco difícil de lidar com o texto, dado a complexidade, vale a pena.

Mesmo não tendo o hábito de colocar trechos da obra, desta ver o farei para que o leitor possa me compreender melhor:

" - Não gosto de pretos, Kindzu.
  - Como? Então gosta de quem? Dos brancos?
  - Também não.
  - Já sei: gosta de indianos, gosta da sua raça.
  - Não. Eu gosto de homens que não tem raça. É por isso que eu gosto de si, Kindzu"

HISTÓRIA: A narrativa é dividida entre dois núcleos. Temos um velho de nome Tuahir e um garotinho de nome Muidinga que viajam fugidos da guerra civil que assola o país. Eles acabam por se abrigar num ônibus (machimbombo) e encontram uma série de cadernos pertencentes a alguém chamado Kindzu.
O menino então lê esses diários e conhecemos então como era a vida desse homem, sua família, seus amores e seus problemas. Quando estamos com o velho e o menino, o livro vai para a terceira pessoa e depois fica em primeira ao acompanharmos os relatos de Kindzu.

" - Tio, eu me sinto tão pequeno...
  - É que você está só. Foi o que fez essa guerra: agora todos estamos sozinhos, mortos e vivos. Agora já não há país."

CONTEXTO HISTÓRICO: O livro mostra a situação do país logo após a independência de Portugal. Poderíamos imaginar um período de recuperação, mas Moçambique enfrentou uma terrível guerra civil que só trouxe mais morte, fome e destruição. Apesar do tema pesado, o autor consegue transmitir ao leitor toda essa desgraça de uma forma anestesiada, algo que justifica o título da obra: Terra sonâmbula. O país e o povo vivem em torpor, um torpor causado pela fome, pela falta de esperança, pela proximidade com a morte.

REALISMO MÁGICO: Não se pode chamar esta obra de fantasia, já que é claramente calçada na realidade, porém a trama é cheia de acontecimentos fantasiosos, que mais parecem lendas ou crendice, muito retirado do próprio folclore daquele país. O nome para isso é realismo mágico, termo comumente associado ao clássico 100 anos de solidão.
O leitor fica sem saber o que, na perspectiva dos personagens, realmente aconteceu, é exagerado ou pura fantasia, mas não importa, o que importa é que resulta numa história bastante prazerosa para o leitor.

" - Por que estás tão reduzido, filho?
  - É que trago um desgosto de mulher.
  - Isso não tem remédio, filho. Eu sei muito bem. Porque eu vivi num tempo em que o amor era uma coisa perigosa. Tu vives num tempo em que o amor é uma coisa estúpida"

CONCLUSÃO: Terra sonâmbula é uma obra que tem um belo texto, muito bem trabalhado para estudantes de literatura e letras. É uma história de forte cunho social que nos mostra os horrores de uma guerra. É, acima de tudo, uma história sobre pessoas, sobre sentimentos e termina de forma surpreendente e espetacular.
Dei nota 4,5 no Skoob. Quase perfeito.

Leia se você gosta de desafios, quer aprender mais sobre o português ou admira prosa poética.
Não leia se você é imaturo demais para algo dessa magnitude. Compre e leia daqui 10 anos.

E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?

E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
Então deixe o seu comentário.

Abraços
Dan Folter!

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Crônica - O tempo

Renato Russo, um desses sábios que nos deixou precocemente, também nos deixou com algumas sabedorias.
Ele disse: "temos todo o tempo do mundo", mas também dizia "não temos tempo a perder"

O tempo: Essa estranha medida em ciclos de sessenta que se tornam doze para só então tornarem-se decimais é responsável por nos dar a chance para depois tirar-nos a vida.

Quando infantes nos sobra, mas nos impedem de ser e de fazer: "Quando fores adulto, terás o direito"

Quando adolescentes nos parece infinito. Achamos-nos eternos, donos da verdade e do mundo.

Quando adultos nos falta. É tanto por fazer, tantas obrigações, tarefas e contas para pagar.

As coisas boas são medidas pelo tempo que duram:
- Uma viagem à Europa dura 15 dias
- Um beijo apaixonado dura entre 1 segundo e 1 minuto
- As férias são de 30 dias, mas podemos vender 10 para o diabo.
- Um filme dura cerca de 2 horas
- O injusto final de semana tem apenas 2 dias, mas muitos trabalham assim mesmo
- O tempo de duração de um orgasmo não pode ser medido pois estamos distraídos demais para contar...

Fato é que os adultos contam o tempo que falta para o final do expediente, para o final de semana, para a aposentadoria. Sempre dizemos tudo aquilo que faríamos se tempo tivéssemos.
Eis que então nos surge o tempo. Férias, desemprego, afastamento por doença e não fazemos um quinto do que havíamos planejado.

Reclamos que o tempo não passa, temos insônia, depressão, ansiedade até que voltamos a trabalhar e a reclamar da falta de tempo.

O ser humano realmente é como o burro que corre atrás de uma cenoura amarrada à frente da têmpora!

Obrigado pelo seu tempo!
Desculpe-me por tomar o seu tempo!

Dan Folter

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Resenha - Uma encomenda para um novo mundo de Deco Sampaio

Começando Agosto com resenha de livro nacional?
É isso mesmo galera.

Achei esse livro numa promoção na Amazon e arrisquei. O resultado você confere agora.

Capa:


Pela capa vemos que o livro foi premiado. Será que mereceu?

SINOPSEThomas Waldmann está indo para um encontro em meio ao deserto do Atacama. Fazem 350 anos que a reunião foi marcada, ele não pode faltar. Durante seu trajeto ele revelará como e por que esse encontro é necessário. Fazem poucos meses que ele acordou do coma em um futuro muito distante daquele que possui recordações de ter vivido. Descobriu um mundo renovado, onde as questões socioambientais são primordiais. Neste novo cenário o Brasil tornou-se o mais admirável país do mundo e as pessoas são educadas e altruístas. Thomas desvendará seus vínculos e segredos implicados nessas modificações desconcertantes. Venha se aventurar nessa trajetória de vida de 350 anos, distribuídas em capítulos que alternam momentos do passado e do presente.

Os leitores terão muitas surpresas, reflexões e mistérios. Serão desafiados a encontrar as respostas, pois saber a verdade pode mudar o mundo.

DADOS TÉCNICOS: 2015, 180 páginas, Amazon , Deco Sampaio

RESENHA: A literatura é mesmo fascinante. Ao iniciar este e-book me deparo com uma nota do autor dizendo que o nosso planeta está em risco. E como engenheiro florestal é função dele nos alertar dos perigos que estamos causando à nossa querida Terra. Ele adverte que se você não gostar do tema e quiser desistir, que fique à vontade.
Eu prossegui.

FICÇÃO CIENTÍFICA AMBIENTALISTA? Claro que este rótulo é apenas uma brincadeira da minha parte, mas Uma encomenda para um novo mundo pode sim ser definida como uma obra ambientalista. Sem ser "ecochato" o autor consegue nos mostrar o que ele considera seria necessário para que o nosso planeta se recuperasse de toda a destruição por nós causada, e faz isso através de uma história enigmática e interessante.

TRAMA: A história narra a vida de Thomas Waldmann, um homem que acorda do coma em um futuro longínquo onde a Terra está completamente diferente. Ele se maravilha ao ver uma sociedade sustentável, altruísta e pacífica.
Mas esse homem tem um encontro no meio do deserto do Atacama e ele precisa se lembrar de como tudo aconteceu, já que acordou do coma, apesar de se lembrar que esse encontro foi marcado mais de 300 anos atrás.

FLASH BACKS: O autor usa de uma alternância de capítulos entre o "agora" e o passado do personagem. Vamos juntamente com ele e com outros personagens secundários desvendando toda a trajetória que o levou até ali, inclusive o fato do homem ter, aparentemente, vivido 300 anos.

PERSONAGENS: Uma encomenda para um novo mundo gira bastante em torno do personagem principal, já que o livro é narrado em primeira pessoa. Dessa forma sabemos tanto quanto o personagem e, por isso, há menos destaque para os outros personagens.
A construção, tanto do protagonista, quanto dos coadjuvantes é coesa e somos capazes de compreender sem problemas as características e motivações de cada um deles.

OS FIM JUSTIFICAM OS MEIOS:  Apenas nas páginas finais do livro é que entendemos como tudo aconteceu de verdade. Qual era o papel de Thomas, quem ele está indo encontrar e como ele foi capaz de viver tanto tempo.
Devo dizer que tudo foi muito bem explicado e o livro não apresenta problemas de coerência ou verossimilhança. Todas as tecnologias estão de acordo com as extrapolações propostas e o fato de o autor também ser engenheiro florestal, assim com o personagem principal faz com que ele domine o campo escolhido para a história.

DISTOPIA/UTOPIA: A velha e boa dupla entre distopia e utopia fazem uma boa combinação nesse livro, afinal o mundo do futuro é maravilhoso e o Brasil é o melhor país do mundo, uma bela utopia, mas o que foi preciso fazer, o que foi necessário sacrificar para que esse futuro seja possível é o ponto alto do livro.

Li em algumas resenhas que o livro é surpreendente e alguns o colocaram ao lado de grandes clássicos como 1984 ou Admirável mundo novo,  o que eu achei um tanto exagerado, apesar de ser um bom livro.

CONCLUSÃO: Uma encomenda para um novo mundo é uma ficção científica nacional bastante competente e vai agradar ao apreciadores do gênero. A questão ecológica não só não incomodou, como ainda engrandeceu a história, dando uma excelente motivação para a trama.
O número de erros de revisão é baixo e a diagramação está ok para um e-book. Nota 3,5. É uma obra que vale a pena, mas que não é tão maravilhosa quanto me foi ventilado.

Leia se você gosta de ficção científica e quer uma nova perspectiva dentro do gênero.

Não leia se você fica irritado com qualquer coisa que defenda pontos ambientalistas.

E você leitor? Já leu esta obra? qual sua opinião sobre ela?

E sobre essa resenha? concorda? discorda? quer acrescentar algo?
Então deixe o seu comentário.

Abraços
Dan Folter!